5. Na sua opinião, como é atualmente encarada a homossexualidade pela população em geral?
O “defeito” da sociedade em geral, relativamente à visão que tem da homossexualidade, é encarar o “diferente” como anormal. O problema de muitas pessoas é que, quando vêem algo diferente da norma/daquilo a que estão habituadas, “apontam o dedo”, criticam negativamente, em vez de tentarem aceitar, isto é, não percebem a população homossexual e, pior ainda, não querem tentar perceber, o que nos magoa profundamente. Assim, idealizo uma colectividade que veja os homossexuais como pessoas que também trabalham de modo a puderem pagar as contas no final do mês, que também estudam para tentarem “ser alguém”, que também amam e são amadas... Não entendo o porquê de sermos tratados de maneira diferente pelo simples facto de nos sentirmos física e emocionalmente atraídos por uma pessoa do mesmo sexo... Ou seja, se a forma de amar é a mesma, porquê a discriminação?
Na minha opinião, há uns anos atrás, a discriminação recaía principalmente sobre os indivíduos de raça negra. Actualmente, apesar de ainda se verificarem injustiças contra os negros, os principais discriminados somos nós, a comunidade homossexual. Provavelmente, daqui a uns anos “inventam” qualquer outra coisa para apontarem como “errado”.
Depois existem ainda os homossexuais homofóbicos (por acaso, conheço alguns), que, não aceitando sentirem o mesmo que os homossexuais, nos discriminam.
Penso que as tentativas de mudança das mentalidades deveriam começar por incidir sobre os jovens, uma vez que ocorrem muitas agressões a homossexuais em escolas. Na maioria dos casos, esta discriminação é consequência dos valores transmitidos pela família: por exemplo, se um dos pais explica ao filho que a homossexualidade é algo errado e que deve ser banida, essa ideia, ainda que errada, permanecerá no pensamento da criança como certa. Como tal, acho que os jovens constituem a camada da população que mais discrimina gays e lésbicas. Os idosos olham e comentam baixinho, para logo a seguir prosseguirem o seu caminho; os adultos actuam exactamente da mesma forma; os jovens são capazes de observar, comentar (por vezes, alto, de modo a que também a “vítima” da agressão verbal possa ouvir) e ficar a pensar no assunto, arranjando, mais tarde, maneira de nos fazer mal (aos rapazes homossexuais, principalmente através de agressões físicas e verbais; às raparigas, com tentativas maldosas de tentarem ver-nos a trocar afectos; efectivamente, muitos homens heterossexuais, quando pensam em homossexuais, consideram apenas a parte sexual: então, homem + homem = nojento/mulher + mulher = excitante).
Concluindo, na minha opinião, hoje em dia, a discriminação em relação aos homossexuais é, infelizmente, muita. Ainda há muita gente que não se assume, receando as possíveis reacções... Eu própria não me assumo totalmente, uma vez que, por exemplo, quando passeio com a minha namorada não lhe dou a mão, não a abraço, não a beijo, porque tenho consciência de que, para a sociedade em geral, a homossexualidade representa algo errado. Obviamente que, se assim desejarmos, podemos “fazer-lhe frente” e demonstrar afectos em público, mas as coisas não são assim tão simples: não podemos adivinhar as atitudes que daí advirão e, no meu caso, a família da minha companheira é extremamente religiosa e, portanto, jamais aceitaria a nossa relação. Felizmente, nunca presenciei nenhum caso de agressão física a um homossexual, mas tenho amigos que já.
7. O que pensa que se poderá fazer para facilitar a integração social dos homossexuais?
A criação de mais grupos de apoio é muito importante. Aproveito para falar da Rede Ex-aequo, que contém vários grupos em várias cidades, organiza diversas actividades, reuniões onde é possível pedir conselhos, desabafar, conhecer pessoas que passam/passaram por situações semelhantes...
Tenho pena que na Madeira não existam sítios onde nós, homossexuais, possamos sentir-nos mais à vontade... Não há “bares gay” nem grupos de apoio... Parece-me que havia alguém empenhado na criação de um centro comunitário, na Madeira, mas as pessoas interessadas não eram em número suficiente para ocupar todos os cargos de coordenadores que uma instituição assim implica ter.
Quanto à sociedade, penso que acabará, mais tarde, por ver os homossexuais de uma maneira diferente... Como já me disseram: se, hoje, dermos um beijo em frente a um determinado número de pessoas, amanhã novamente, e depois também... Daqui a algum tempo, o afecto trocado por homossexuais será tão banal que as pessoas vão deixar de ver a homossexualidade como algo “diferente”.
Também seria relevante a organização de palestras, principalmente em escolas
Entrevista feita por Caroline Afonso
Entrrevistado ,Estudante de musica Jessica Ruben.